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segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Novo ano. O ano.

Mal preguei os olhos essa noite. Esse barulho todo dentro da minha cabeça não tem me deixado dormir.
Parece que meu sono durou dez segundos e pronto. Acordei. E acordei sentindo uma dor terrível nas pernas, dignas de alguém que correu uma maratona (não que eu já tenha tido essa experiência para saber, mas imagino). Minha cabeça esteve um pouco dolorida, principalmente a minha testa onde forma o desenho do onze. Coisa de quem pensa bravo demais. Bravo e demais.
Não foi vantagem para mim ter saído de casa. Soube desde que meus olhos doeram por ter encontrado a claridade. Ando me conhecendo bem.
Perambulei por ruas e ruas buscando mais que depressa terminar o que tinha pendente a fazer para poder voltar para casa, deitar em posição fetal e esperar minha agonia passar. Assim mesmo, resolvendo problemas com maturidade.
Mas, como já era de esperar, o dia se arrastou. Se agarrou ao tempo como uma criança que se segura nas pernas dos pais quando não quer -ou quer, fazer alguma coisa.
Agora cheguei em casa e minha rima anda tão pobre quando a esperança de que as coisas vão melhorar.
Sabe como é, daqui à umas quatro horas começa um novo ano. Vai ser meu ano de decisões (quem me conhece sabe o que penso a respeito de decisões) e tremo por dentro só de pensar nisso tudo que está por vir.
Não sou de fazer promessas e muito menos gosto de superstição, mas, será que vale tudo?
Vamos esperar. Esperar a esperança de que as novas marés não me arrestem para alto mar.
Feliz. Muito feliz 2013 para todos nós.

sábado, 29 de dezembro de 2012

Decifra-me, vossa senhoria.

Queria eu saber, de parte extremamente humilde, vossa senhoria, quanto silêncio embala os teus grito nessa canção.
Queria eu saber, da parte de um singelo sorriso, vossa senhoria, quanta vontade desesperada de parar cabe nos teus passos corridos.
Queria eu saber, de parte curiosa, vossa senhoria, quanta desordem consequente cabe na tua organização ordenada.
Queria eu saber, vossa senhoria, quantos goles a seco engole a tua paciência.
Queria eu, vossa senhoria, saber quantas memórias flamejantes cabem no teu frio vazio.
Queria eu saber, de parte da {in}quietude, vossa senhoria, quanta fumaça tragada cabe na tua estúpida e agoniante diversão.
Queria eu saber, de parte das marés, vossa senhoria, quantos céus inchados e trovejantes são contidos nos teus olhos.
Queria eu saber, vossa senhoria, quantas cordas no pescoço abafam os sons chorosos da tua voz.
Queria eu saber, de parte desconfiada, vossa senhoria, atrás de quantas mentiras e paredes esconde-se tua insegurança.
Queria eu saber, vossa senhoria, porque assim sabendo do outro, eu me saberia também.

domingo, 23 de dezembro de 2012

Helena, já tenho cinco anos de saudade.


Baixinha, com a coluna meio torta. Andava bem devagar. Tinha pintinhas nas mãos e a pele flácida não deixou mentir a idade. O cabelo era tão branquinho e fraquinho que parecia que se encontrasse o vento ele ia voar igual aquelas flores que a gente assopra e elas se desmancham. Mas ver isso era luxo de poucos porque ela sempre andava com um lenço. Sem contar os vestidos que eram os mais floridos e bonitos do mundo, mesmo tendo um remendo aqui e outro lá. Tinha o olho tão verde quanto uma folha e o rosto tão macio quanto uma rosa. Na verdade, ela era uma rosa.
Tinha uma manchinha no rosto, marrom. A pele era tão delicada que era só bater um vento frio para de noite descascar. 
A voz dela era calma demais, falava as palavras mais verdadeiras e aconchegantes do mundo. O abraço sempre foi o mais desajeitado e era exatamente nesse 'desajeito' que cabia minha dor e o meu amor.
Ela arrastava os pés pelas calçadas usando alguma sandália de couro frouxa, no percurso entre a casa o jardim e lavanderia. Com o tempo ele arrastava junto um bengala. 
Foi sempre independente, até que a vida obrigou a deixar de ser.
Foi a mulher mais forte que eu já conheci. A mulher mais verdadeira.
Ela me cuidou e me amou sem esperar nada em troca.
Hoje eu a amo com todo meu coração, sabendo que não posso esperar mais do que a saudade que não passa.

domingo, 16 de dezembro de 2012

Se você quiser ser um guitarrista do Iron Maiden



Extravagâncias, amantes, dívidas,
separações, alegações de incesto,
morte por febre,
se você quer ser um guitarrista do Iron Maiden
tem que carregar consigo um Lord Byron.
Tem que ser antigo como são antigas a bactéria,
a chaga de Cristo
e tudo o mais que a medicina não deu cabo.
De teu motor valvulado, corrosivo e perecível
você tem que extirpar cadeados de lamentos,
cruz e sacrifícios.
Você tem que ser teu próprio pronto socorro,
da selvageria que é a vida.
Você tem que saber que não é invulnerável,
que vão te fazer a corte e os cortes,
nunca as suturas.
Você é antigo na dor,
faz de sangrias coaguladas o teu pranto.
Você colocou a mão esquerda na labareda,
deu-a de bandeja à palmatória.
Com a outra você cometeu haraquiri.
E o show ainda nem chegou na metade.
 [Adaptado.] Autor: Felipe Leprevost

Depois.


Outra vez eu não sei como começar.
Queria despejar essa agonia que está presa em mim. Botar para fora a bola de pelos que está parada na minha garganta, mas, dessa vez, não consigo fazer disso tudo prosa ou poesia. 
Eu não sou assim. Juro por tudo o que existe no universo, não sou! 
Nesses últimos dias, estive guardada no meu universo – interno- paralelo (em plena confusão) e no lugar onde a vida real acontece, me deixei sem controle, sem inteligência e repudio. 
Tirei férias de mim e aos outros entreguei passaportes para visitação e diversão. 
Não andei pelos melhores lugares e nem fiz as melhores coisas. Muito pelo contrário. E mesmo escondida de tudo, eu consegui sentir o tamanho do erro.
Confesso que hoje, de volta à mim,  me sinto um pouco melhor por descobri quem não quero ser. Acredite, já é uma grande coisa.
Mas de qualquer forma, eu não queria que isso tivesse envolvido mais ninguém. Principalmente alguém que não merece.
Estou descobrindo o que quero ser para mim mesma e lembrando como é ruim ser alvo de quem brinca com o coração de gente que ainda não cansou de se arrepender. Tenho certeza disso porque foi quem fui.
Sei que o que tá feito, simplesmente, tá feito. Mas jogar isso tudo em um papel me faz acreditar que não foi de todo mal. Só de todo egoismo.


segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Órion.

Já não sei mais em qual constelação parei; Não sei ao certo quantas gotas eu contei, nem quantos sorrisos {des}inventei.
Estou a dois dias preso na galaxia que tomou conta do teto escuro de um lugar qualquer.
[...]

- Tem estrelas alí; Acho que não ando bem.

- Mas tem mesmo.

[...]

Estou de mudança para um planeta sem nome porque lá eu vi alguém que não me obriga a mentir, não me pede para mudar, me deixa insistir e por incrível que pareça, não me faz querer fugir.
Juntei todas as minhas desesperanças em uma mala e sem choro nem vela, arremessei pro mar. Virei as costas e fingi que não ouvi nenhuma delas gritar.
Relembrei as lembranças só para me certificar de que já as esqueci.
Estava disposto a reaprender a amar. Porque, meu amor, eu preciso de um clichê pra essa história.
Veja, moça, lembra o que te falei do teu alguém?
Todo o drama se justifica. Eu também entendo as danças da crítica.
Mas, na verdade, tudo isso é só para te pedir que não se assuste com meu drama e meu jeito tão desajeitado. Só assim consigo mostrar que estou tentando o melhor pra poder te dar.
Afinal... Nós vemos as mesmas estrelas.

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Eu não sei voar. Eu não sei mais nada.



Hoje é um daqueles dias em que parece ter algo querendo fugir do meu peito. Rasgar a alma, despedaçar o que já foi traçado. Aquarelado.
Dentro desse quarto branco, sem janelas, sufocante, meu mundo interior pulsa em um ritmo descompassado.  É desesperador olhar todos esses alheios à mim. Tranquilos.
Estou olhando firme e fundo para qualquer lugar, procurando segurança no inseguro e estabilidade no instável. Sempre ao contrário, mas que seja contrário se for dentro do meu lugar. [...]

Meu lugar é escuro e faz silencio. Não existem pegadas nem vestígios do que e de quem já passou por aqui. Não existe mais nada desde que você se foi.
Tem o vento e algumas folhas que cantam os melancólicos sons da noite. Tem também, a triste e fiel companhia da solidão.
E meu movimento é rápido, minha respiração é apavorada, meus pés são apressados.
Meu mundo é caleidoscópio. Gira. Se transforma o tempo todo.
Acontece que eu me perco da coreografia. Danço a dança errada. A música errada. O palco errado.
E mudou. Outra vez. Rápido. [...]
Meu mundo é uma calma, serena e plena. Confusão.

Não volte pra casa meu amor, que aqui é triste. Não volte para o mundo onde você não existe mais.


segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Alguém como você.

Preciso de alguém como você porque teu alguém é diferente de qualquer um.
Sei bem que tua fragilidade caberia dentro da minha grosseria.
Sei também que na palma da tua mão, existe um conforto pra minha solidão.
E é engraçado pensar assim porque não te conheço muito além dos fios ondulados que no vento faz o encanto multiplicar. Só sei que teu alguém é diferente.
Sei que acorda chorando de sonhos que te assustam.
Sei que teu coração já andou por eiras e beiras.
Sei que pelo teu sorriso, moça, largo até meu pior vicio. Paro de beber e de fumar, de escrever pra amargurar.
Por isso teu alguém é diferente.
Sei que não sei se teus olhos encantam mais que teus lábios.
Sei da tua harmonia, presente do universo, pra no final, combinar a poesia. Anatomia do teu ser.
É esse alguém diferente que mexe com o coração de gente que ainda não cansou de se arrepender.
É um alguém diferente, porque desse alguém, só tem você.

sábado, 6 de outubro de 2012

As flores de plástico.


Conhecer os demônios alheios é uma das experiências mais interessantes da vida. E não estou dramatizando agora.
Quando eu era criança, pegava botões da Camélia que tinha na casa da minha avó e tirava folha por folha. Dezenas.
O pé de Camélia já não está mais onde costumava estar e eu não gasto as unhas que não tenho estragando o resultado dessa criação. Literalmente falando. Agora eu ‘desfolho’ pessoas. Quanto mais interno, mais verdadeiro.
É curioso ver toda a armação que escondemos até chegar ao interior.
São mentiras, são momentos, são duplas personalidades e caras.
Todo mundo desfolha as Camélias do dia a dia.
Cada um se decepciona ou surpreende, profundamente. Não existe meio termo.
Porém, recentemente encontrei uma flor única.
Ao tentar descobri-la, encontrei medos, inseguranças, carências, fragilidade e a busca por conforto.
Mais longe eu encontrei dissimulação, mentira, abuso e os piores tipo de cena.
Maldito artista que brinca com o coração dos palhaços sem reconhecer quem não se faz compreender, mas quer fazer sorrir.
E mais fundo ainda, veio à surpresa. Era oco. Vazio, gelado, seco. Independente. Sem vestígio de raízes.
Na verdade, era assim: Comigo-ninguém-pode.

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Ampulheta


Hoje, especialmente, não escrevi meu conto de chuveiro. Nem perto da hora de dormir.
Na verdade, isso nem é um conto, é um desabafo. Estou lendo um livro e as palavras impressas nele me disseram “O papel é mais paciente que as pessoas”, e eu encarei isso como a maior verdade.  Não sei bem como começar porque não quero que isso soe como um grito de atenção pra quem lê.
A verdade é que hoje eu me senti a pessoa mais vazia do universo. Conversei com mil pessoas, falei sobre Freud, futuro e as galáxias. Um monte de conversa vazia com um monte de gente vazia.
Não sei bem se sou egoísta pensando assim, mas, parece que mesmo tendo gente ao meu redor, eu sempre acabo sozinha. É sempre amor mendigado. Implorado.
Talvez eu não me permita receber amor de quem quer dar e me prenda a falta de reciprocidade alheia. Sei a quantidade de incômodo uma situação assim gera.
Eu não me sinto morna por dentro, pelo contrário. Explodo de diversas formas a todo o momento. Mas é sozinha.
Já por fora, tudo na mesma.
Sei que não sou uma pobre coitada que não pode contar com ninguém no mundo. Admitir isso passa e repassa por cima do meu drama de vida inteiro, mas é verdade. Sei que quando precisar, alguém vai estar comigo. Mas, e aqueles que ficam quando eu não preciso? Alguém pra ser exclusivo.
Eu não falo sobre isso com ninguém, não sei por que e é ruim expor isso assim.
Às vezes, especialmente no final da tarde quando meu dia a dia está me atropelando, eu sinto vontade de sair correndo. Para qualquer lugar.
Faço um monte de burrada e no fundo, sinto que alguma coisa está indo embora.
Tentar segurar a areia entre os dedos tem sido totalmente inútil.

sábado, 1 de setembro de 2012

Pesadelo quase real.


Por mais triste que possa parecer, o meu tão sonhado solo no Regina Vogue foi por água abaixo e os ensaios que me empolgavam como um brinquedo novo brilha os olhos de uma criança, já estão se tornando obrigação.
Era cedo ainda, queria sair do estúdio a qualquer custo e inventei que estava com dor no meu pé machucado.  Uma frescura qualquer que se acabasse por se complicar poderia colocar em risco todo o elenco.
Quando saí senti o peso do ar diminuir em uma quantidade assustadora. Comecei a caminhar sem fazer ideia de para onde ia.
- Me vê um L.A. Cereja. Ah, um isqueiro também. O branco.
A moça da loja de conveniências me olhou estranho. Eu também estava olhando estranho para mim mesma.
Nunca fumei e por algum motivo comprei uma carteira de cigarros caros em um sábado de sol.
Continuei andando até chegar a uma rua completamente vazia, com arvores e uma sombra.
Caí na grama que beirava a estrada e usei uma pedra como almofada. Acendi um dos cigarros.
Fiz isso com a naturalidade de quem fuma a anos. Não que eu me orgulhe ou ache isso bonito. Foi só, natural.
Quando senti o calor da brasa bem próximo da minha boca, joguei o que sobrou para o lado e me abstive de acender outro.
Mais natural do que acender o maldito cigarro foi a leveza com que uma lagrima percorreu meu rosto.
Eu não queria chorar. Estava seca por dentro, sabia disso.
Entrei em prantos. Minha garganta e meu estomago doíam com a força que fazia.
Nada muito extraordinário aconteceu nesses últimos dias, mas, me sinto frustrada. Incapaz.
Parece que não consigo levar a diante meus planos, meus desejos e meus amores. Tudo amorna. Tudo vira monotonia.
Posso estar reclamando de barriga cheia e isso é bem provável, mas, eu não sei lidar com meus demônios. Preciso estar em constante movimento. Sou movida a experiências.
Me viro do avesso e arranco as raízes das plantas que estavam crescendo no meu jardim. Não eram só flores.
Acho que estou saindo dos trilhos e é incrivelmente difícil encontrar o norte dessa viagem.
Pressionei meus olhos com força. Respirei fundo. Levantei.
Voltei a andar, seguindo o sol.
Acordei. 

domingo, 26 de agosto de 2012

Os segundos.


Vem tão depressa
Venta depressa.
Venta de pressa.
Cada segundo.
Seguindo junto.
Falta de atenção.
Sobra de ação.
Atende a intenção.

domingo, 5 de agosto de 2012

Daqui pra frente.


Poucas – mas não inexistentes- às vezes em que me senti assim. Fluxo desordenado. Falta de coordenação, cooperação.
Gosto de ilustrar meus sentimentos. Crio personagens e situações mentais para meus estados de espírito. Até um tempo atrás as coisas andavam rápidas demais. Quase uma corrida contra mim mesma. O dia e a noite passavam em minutos e eu era atropelada pela obrigação de ser alguém. Ilustrei esse momento como se estivesse correndo nos trilhos de um trem, sendo mais rápida que o maquinário e por vezes, que não foram poucas, deixe-me atropelar. Não sei exatamente como funcionam minhas projeções, mas, em qualquer situação além do normal, era para esse momento que eu me transportava. Correr. Correr mais do que as pernas aguentam. Sair dos trilhos e deixar o trem passar. Deixar o trem passar por cima. Eu tive que escolher e enfrentar situações assim, mas agora, passou. Passou por cima e eu não consegui levantar.
Nenhum trem passa por aqui já tem tempo e o caminho dos trilhos é tão comprido que nem me arrisco a percorrer. Tem horas em que realmente sinto vontade de tentar, mas no mesmo instante ouço o pulsar do ferro avisando que um novo vagão está por vir. O pulsar dos trilhos acompanha o ritmo do sangue percorrendo as minhas veias. Do sol, flamejando na existência e tocando com o peso e agressividade da obrigação minha pele. Suja. A poeira misturada ao suor contorna meu rosto redefinindo meus traços. Me torno quase irreconhecível. Tenho plena consciência de que não sou capaz de ir mais rápido e nem mais longe do próximo trem que está por vim. Esmoreço. Com pernas bambas volto ao chão. Parece-me até agradável. É mais seguro. Encontrei minha zona de conforto. O único problema é que eu nunca quis uma vida confortável.
Eu não sei de mais nada daqui pra frente. 

domingo, 22 de julho de 2012

Cantiga para não morrer



Quando você for se embora,
moça branca como a neve,
me leve.
Se acaso você não possa
me carregar pela mão,
menina branca de neve,
me leve no coração.
Se no coração não possa
por acaso me levar,
moça de sonho e de neve,
me leve no seu lembrar.
E se aí também não possa
por tanta coisa que leve
já viva em seu pensamento,
menina branca de neve,
me leve no esquecimento.
Ferreira Gullar  

sexta-feira, 15 de junho de 2012

"Me aproximei, mas nada disse. Ela estava lendo, envolvida pelas palavras que a transportavam para outro mundo, interior.
Observei em silêncio desejando cada vez mais fazer parte desse mundo que lhe pertencia.
Torcendo pra que ela, no virar de uma página, me deixasse entrar." - Anonimo 

terça-feira, 29 de maio de 2012

"Ninguém ama outra pessoa porque ela é educada, veste-se bem e é fã de Caetano... Isso são só referenciais.
Ama-se pelo cheiro, pelo mistério, pela paz que o outro lhe dá, ou pelo tormento que provoca.
Ama-se pelo tom de voz, pela maneira que os olhos piscam. Pela fragilidade que se revela quando menos se espera."
                                                                                                                          Arnaldo Jabor

quinta-feira, 10 de maio de 2012

Inconstância.

Tem hora em que é um carinho na alma.
Mais do que isso, é como se uma capsula se rompesse e fosse percorrendo o meu corpo até atingir o lugar mais escuro e escondido.
Mas também tem hora em que é ventania, bagunça. Falta de controle.
Correr pelos trilhos de um trem ouvindo o som do maquinário a vapor correndo mais rápido do que você.
É decidir ir ou ficar. Deixar o trem passar. Por cima ou tanto faz.
Outra hora, é a calma do mundo, abraço maior que o seu, cházinho de neném ou gato carente.
Pode ser tudo, só não posso ser nada. Até posso, mas não tem motivo. É ter motivo. Isso.
Aceitar qualquer desafio. Me permito doer e sentir. Estou inteira. Sou. Simples.
Antes de esquecer, preciso dizer que é tempo. O tempo que eu sempre quis e que chegou.
Não dá pra negar que também é um pouco de saudade. Saudade que vem assim do nada, sabe? No meio daquela quarta-feira cinza e.. Ah, como eu gosto dela.
Mas ora, o que espero? A verdade pra tudo isso: É ela.

domingo, 29 de abril de 2012

Pablo Neruda.

Por mi parte soy o creo ser duro de nariz,
 mínimo de ojos, escaso de pelos en la cabeza,
creciente de abdomen, largo de piernas, 
ancho de suelas, amarillo de tez,
generoso de amores, imposible de cálculos, 
confuso de palabras, tierno de manos,
lento de andar, inoxidable de corazón, 
aficionado a las estrellas, mareas, maremotos, 
admirador de escarabajos, caminante de arenas,
 torpe de instituciones, chileno a perpetuidad, 
amigo de mis amigos, mudo para enemigos,
 entrometido entre pájaros, tímido en los salones, 
audaz en la soledad, arrepentido sin objeto, 
horrendo administrador, navegante de boca,
yerbatero de la tinta, discreto entre los animales,
afortunado en nubarrones,  investigador en mercados,
oscuro en las bibliotecas, melancólico en las cordilleras,
incansable en los bosques, lentísimo de contestación,
ocurrente años después, vulgar durante todo el año, 
resplandeciente con mi cuaderno, monumental de apetito, 
tigre para dormir, sosegado en la alegría,
inspector del cielo nocturno, trabajador invisible, 
desordenado persistente, valiente por necesidad, 
cobarde sin pecado, soñoliento de vocación, 
amable de mujeres, activo por padecimiento,
 poeta por maldición y tonto de capirote.

sexta-feira, 13 de abril de 2012

Sexta-feira e chuva.

Sexta-feira. Ultima aula de sexta feira e muita chuva. Eu amo chuva. Amo chuva e última aula de sexta-feira porque quando ambos acabam eu me sinto livre e nova. É, nova.
Na verdade, não. Gosto mesmo é porque esse tipo de situação me faz sentir diferente, sair da rotina. Convenhamos que hora do rush em uma sexta-feira com chuva é..diferente, e é disso que eu gosto.
Mas hoje, não.
Hoje eu não prestei atenção nos carros e nem na chuva, não sei dizer se tinha muito ou pouco movimento, não faço ideia.
Meu rosto tá inchado e meus olhos em carne viva, horríveis!
Sabe porque? Porque eu falei sem pensar, falei demais, falei o que não devia pra quem, muito menos, devia.
Falei, na ultima aula de uma sexta-feira de muita chuva.
Agora já fazem cinco horas e eu ainda não parei de chorar. A chuva também não parou.

Eu fui obrigada a me sentir um lixo e ir atras dele, ir lá, abraçar e pedir desculpas. Sei que é insignificante, como a chuva foi. Mas pelo menos era. Só precisava ser e eu conseguiria me sentir.. só sentir, ainda não conseguiria ser melhor do que nada.
Eu não senti o chão enquanto estava dentro daquele abraço, ou enquanto te guardei no abraço.
Sentia minha nuca quente e molhada, porque você chorava como uma criança. Nós nos tornamos duas crianças choronas e cheia de motivo pra isso, mas, dos meus motivos, ninguém sabe.
Você quase gritou a saudade, e aquilo me doeu como se entre nós houvesse algo cortante. Como se você fosse feito de lâminas afiadas. Eu te prendi com tanta força...

Vou rezar pra chuva passar. Eu nem sei mais rezar, deixei de acreditar em orações faz um tempo, mas não sei,  senti que precisava.
Em todo caso, vou rezar pra saudade também.

terça-feira, 10 de abril de 2012

De repente, 45.

Estou com 45 anos. Acabei de decidir. Na verdade, sei que estou porque essa é a idade da minha mãe e eu estou exatamente igual a ela.
Esses dias, por uma falha da alienação sai da minha bolha e dei uma olhada em como as coisas estavam. Foi realmente assustador: tenho 45 anos.
Saio cedo, volto tarde. Durmo tarde e acordo cedo. Almoço fora e um dia ou outro compro alguma lembrança pra alguém de casa. Só lembrança mesmo porque minha casa agora é uma espécie de hotel muito aconchegante e cativante, mas só hotel.
Como todo dia no mesmo lugar e engulo seco pra não chorar.
Minhas costas estão doendo e suponho que o grau dos meus óculos aumentou, ou essa visão embaralhada é só o sono.
Esqueci de contar que detalhes pra mim não existem mais. Sou a pessoa mais superficial do mundo e só me dou conta disso um pouco antes de dormir, questão de segundos.
Minha nossa, eu tenho 45 anos!
Sabe o que é triste? Querem me dar um pin pra colocar no colarinho, ele é dourado, vermelho e creme e junto com ele tenho um código de conduta ética. Mas sabe o que é pior? Além de ser triste, eu estou prestes a aceitar. 
Código de conduta ética pra quem um dia quis sair correndo e viver de luz em machu-picchu?

O lema é organização, concentração e dinheiro mas isso tudo tá virado em um puteiro.
Eu tenho 45 anos e isso é terrível.

sábado, 21 de janeiro de 2012

O resultado de um ou cem.



Podia ter pensado em noventa e quatro pessoas, mas não. Foi automático, ouvi a palavra saudade e pronto, você estava lá e fez sumir qualquer outra pessoa que também me despertaria os sentidos dessa forma.
Em um exato instante voltei no tempo, um tarde com vento gelado. Sábado. São Paulo, Liberdade. Mayara.
Olhei para ela e senti tudo o que fosse capaz de se sentir em questão de segundos, logo abri um sorriso, sonolento, mas incrivelmente verdadeiro, acho que ela não viu.
Foi até engraçado porque eu me perdi completamente, não soube desmontrar como estava feliz por aquele momento, pelo contrario, me tornei uma criatura bizarra que não conseguia tomar conta dos atos nem palavras, ainda por cima coloquei a culpa no sono. Criativa, não?
O fato é que eu estive lá, frente a pessoa que em tempos havia se tornado de uma importância inexplicável.
Não sei explicar o que ela tinha e se tentar posso acabar escrevendo um livro. Era algo que me fascinava de uma maneira incomum. Sabe? Jeito de mulher madura, bem resolvida, cheia de gênio e atitude, mas tinha a voz e o sorriso de menina doce, quase fragil que, no silêncio se tornou impenetrável, indescritível. Vai ver é isso mesmo.
Mas o tempo voou, e já era hora de ir embora. Guardo até hoje o abraço de despedida, o cheiro e qualquer outro detalhe. Foi o melhor. Característico daquela menina, por hora, mulher.
Só sei que não à vi mais, nos falamos pouco, quase nunca, e a distância entre minha saudade e aquela tarde, aqueles quinhentos quilometros que adei unicamente para vê-la, se torna cada vez maior.
Queria ter marcado ela, como ela me marcou. Queria que ela sentisse a mesma falta que eu sinto. Na verdade, não precisava ser a mesma, podia apenas ser. Sei que não devo esperar muito, mas lá no fundo uma parte bem ingênua sente e espera.

Isso é sobre alguém que já esteve aqui.

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Insanidade.

Nada precisa fazer sentido, e nada faz.

Me tornei qualquer coisa que ninguém saiba descrever.

Escrevo besteira o tempo todo, penso besteira o tempo todo, besteira que já foi mais do que importante.

Mas é que eu tranquei a respiração e pulei, sem braços abertos, sem olhar pro céu. Cai.
Cai e me machuquei, feridas feias que não fiz a menor questão de curar.
Fui um ser desesperadamente errante, desesperadamente mesmo.
Impulsivo até a última gota, última garrafa, último gole, última música, última noite.

Sai de casa sem voltar e conferir se tinha mesmo trancado a porta, na verdade acho que até esqueci onde deixei as chaves mas tanto faz. Tanto faz.

Não, não! O coração não tem nada que ver com isso. Nunca tem. O problema é dentro da gente, é problema da alma que está diretamente relacionada a mente.
Foi assim que eu sai, só de alma, sem mente e mentira, só cara e coragem.
Mas sempre existe um 'mas', um pé atrás, um pé lá onde toda aquela bagunça ficou, lá onde você sabe que não devia voltar mas mesmo assim volta, e eu voltei. Sem pensar nem falar nada, como sempre.
Eu sei que é culpa minha e que não é exatamente certo, não que eu tenha condições pra dizer o que é certo ou não mas pelo menos não me parece ser.

Lutar pra esquecer e depois fazer um tremendo esforço para lembrar.
Acho que quem não tem para onde ir arrisca querer voltar, mas é pra frente que se anda.