Poucas – mas não inexistentes- às vezes em que me senti
assim. Fluxo desordenado. Falta de coordenação, cooperação.
Gosto de ilustrar meus sentimentos. Crio personagens e
situações mentais para meus estados de espírito. Até um tempo atrás as coisas andavam rápidas demais. Quase uma corrida contra mim mesma. O dia e a noite passavam em minutos e eu era atropelada pela obrigação
de ser alguém. Ilustrei esse momento como se estivesse correndo nos trilhos de
um trem, sendo mais rápida que o maquinário e por vezes, que não foram poucas,
deixe-me atropelar. Não sei exatamente como funcionam minhas projeções, mas, em
qualquer situação além do normal, era para esse momento que eu me transportava.
Correr. Correr mais do que as pernas aguentam. Sair dos trilhos e deixar o trem
passar. Deixar o trem passar por cima. Eu tive que escolher e enfrentar
situações assim, mas agora, passou. Passou por cima e eu não consegui levantar.
Nenhum trem passa por aqui já tem tempo e o caminho dos
trilhos é tão comprido que nem me arrisco a percorrer. Tem horas em que
realmente sinto vontade de tentar, mas no mesmo instante ouço o pulsar do ferro
avisando que um novo vagão está por vir. O pulsar dos trilhos acompanha o ritmo
do sangue percorrendo as minhas veias. Do sol, flamejando na existência e
tocando com o peso e agressividade da obrigação minha pele. Suja. A poeira
misturada ao suor contorna meu rosto redefinindo meus traços. Me torno quase irreconhecível.
Tenho plena consciência de que não sou capaz de ir mais rápido e nem mais longe
do próximo trem que está por vim. Esmoreço. Com pernas bambas volto ao chão. Parece-me
até agradável. É mais seguro. Encontrei minha zona de conforto. O único
problema é que eu nunca quis uma vida confortável.
Eu não sei de mais nada daqui pra frente.