Teve um dia em que eu estava passeando de barco, quando em “alto
mar”o barco parou. Não era um lago qualquer, e eu nem sabia muito sobre ele, no
máximo que era muito fundo e muito gelado também. Eu nunca havia tido uma
experiência tão próxima com água, na verdade, não sei nem se posso dizer que
sabia nadar.
Mas naquele dia, mecanicamente me dirigi para a saída, e
observando a distância entre o barco e a água, além de seu movimento de
oscilação, pulei.
Eu não tinha absolutamente nada que me desse segurança, não tinha colete, corda, nem o fundo próximo dos meus pés e muito menos a borda próxima das minhas mãos.
Depois que pulei, senti como que se não existisse força
nenhuma sobre mim, e como se eu fosse algo insignificante no meio daquela
imensidão azuladamente vazia. Eu afundava, afundava, afundava... e quando abri
os olhos, vi a luz na superfície ficando cada vez mais distante. Qualquer
movimento que eu fizesse era inútil. Eu havia me tornado parte daquele todo
cheio de nada. Olhei para o meu corpo e ele se movia no ritmo das ondas, e meus
olhos cobertos de azul escuro, já previam a dor da água entrando nos meus
pulmões. Mas não consegui me assustar, foi tão natural. Era como se eu
estivesse sendo consumida pela natureza, e a luz do sol que eu via do lado de
fora, fosse o que sobrava de mim.
Foi ai que eu senti que algo ainda me pertencia, e o vento
frio de julho tocou a ponta dos meus dedos que fugiram daquele lugar. Aos poucos,
todas as partes de mim passaram a ser as mais sensíveis existentes no universo,
e meus membros obedeciam minhas vontades. Eu movimentava meus braços e minhas
pernas que pareciam quebrar icebergs a cada metro atingido.
Então, encontrei a escada do barco, subi. Ri de mim mesma
por alguns longos minutos, e quando senti o peso da necessidade de ser alguém,
outra vez, deixei que meus pés
escorregassem de novo para dentro de um lugar onde não houvessem limites para
mim. Lá onde meus pensamento e sentimentos divagavam sem fronteiras. Dissolviam-se. Onde tudo se tornou um só, desafiando todas
as ciências e os métodos.
Foi assim, e é assim sempre, todos os dias.