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quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Contida.

Quando seus pensamentos tomam conta de você e algo te impede de agir como gostaria, não é capaz de intensificar, é difícil respirar, impossível explicar, decifrar, reparar, não encontro a saida.


Reinventou a leveza de ser.

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Sem trilha sonora.

- Vê esta cicatriz? Aqui, olha.
Mostrava-me a palma da mão.
- Sim, tens aí uma honorável cicatriz - dizia, tateando.
- Profunda. - repetia a voz embargada pra trazer á tona a memóoria dramática do amigo.
- Pois bem, certa vez estava sentado em uma mesa de bar quando um velho conhecido se aproximou, sem pedir licença foi logo puxando cadeira. Ofereci um copo, ele sem cerimônia virou de uma só vez, encheu-o de novo enquanto posava-se de macho.
Puxando conversa:
- Por que está ai tão sozinho, carente? Em pleno sabadão desses?
Continuei calado, ele também desconcentrado virou mais um gole, silenciou por alguns instantes.
Pedi, melhor ordenei:
- Me queime.
- Joana D'Arc á procura de fogueira?
- Aqui - disse, estendendo-lhe a palma da mão.
Como ele parecesse não ter entendido bem, repeti:
- Pegue o cigarro e queime esta palma.
- Por quê? Por que quer que eu faça isso? Por que o faria?
- Vamos.
- Dói cara, tá louco?
- Obedeça! Não vai doer, tenho certeza.
Autoritário e desafiante, a mãe aberta estendida, incitava:
- Entendo de dores, garanto-lhe. Nada vou sentir.
Ameacei, segurando o copo:
- Se quer continuar bebendo, aqui sentando nesta mesa, faça o que estou pedindo. Caso contrário...
Ante a ameaça de represália, o camarada ainda titubeou:
- Fazer isso por que? logo com um cara legal?
- Quero testar minha dor. Tenho certeza de que nada vou sentir, repito.
Como tomei sua mão com o cigarro aceso e ameaçava eu mesmo fazer o que queria, ele então decidiu.
- Está bem, sendo assim.
E segurando minha mão deixou que o cigarro aceso fosse pouco a pouco chamuscando a pele da palma, enquanto torcia para que eu reclamasse de dor.
Mas que dor nada.
Quando o cigarro apagou, uma feia ferida ali se formara, exibível.
Abri os dedos, confessei:
- Não senti nada, nem sinto nada agora. A dor que trago dentro é maior, mil vezes mais. Esta cicatriz é insignificante comparada á do peito.