Páginas

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Ampulheta


Hoje, especialmente, não escrevi meu conto de chuveiro. Nem perto da hora de dormir.
Na verdade, isso nem é um conto, é um desabafo. Estou lendo um livro e as palavras impressas nele me disseram “O papel é mais paciente que as pessoas”, e eu encarei isso como a maior verdade.  Não sei bem como começar porque não quero que isso soe como um grito de atenção pra quem lê.
A verdade é que hoje eu me senti a pessoa mais vazia do universo. Conversei com mil pessoas, falei sobre Freud, futuro e as galáxias. Um monte de conversa vazia com um monte de gente vazia.
Não sei bem se sou egoísta pensando assim, mas, parece que mesmo tendo gente ao meu redor, eu sempre acabo sozinha. É sempre amor mendigado. Implorado.
Talvez eu não me permita receber amor de quem quer dar e me prenda a falta de reciprocidade alheia. Sei a quantidade de incômodo uma situação assim gera.
Eu não me sinto morna por dentro, pelo contrário. Explodo de diversas formas a todo o momento. Mas é sozinha.
Já por fora, tudo na mesma.
Sei que não sou uma pobre coitada que não pode contar com ninguém no mundo. Admitir isso passa e repassa por cima do meu drama de vida inteiro, mas é verdade. Sei que quando precisar, alguém vai estar comigo. Mas, e aqueles que ficam quando eu não preciso? Alguém pra ser exclusivo.
Eu não falo sobre isso com ninguém, não sei por que e é ruim expor isso assim.
Às vezes, especialmente no final da tarde quando meu dia a dia está me atropelando, eu sinto vontade de sair correndo. Para qualquer lugar.
Faço um monte de burrada e no fundo, sinto que alguma coisa está indo embora.
Tentar segurar a areia entre os dedos tem sido totalmente inútil.

sábado, 1 de setembro de 2012

Pesadelo quase real.


Por mais triste que possa parecer, o meu tão sonhado solo no Regina Vogue foi por água abaixo e os ensaios que me empolgavam como um brinquedo novo brilha os olhos de uma criança, já estão se tornando obrigação.
Era cedo ainda, queria sair do estúdio a qualquer custo e inventei que estava com dor no meu pé machucado.  Uma frescura qualquer que se acabasse por se complicar poderia colocar em risco todo o elenco.
Quando saí senti o peso do ar diminuir em uma quantidade assustadora. Comecei a caminhar sem fazer ideia de para onde ia.
- Me vê um L.A. Cereja. Ah, um isqueiro também. O branco.
A moça da loja de conveniências me olhou estranho. Eu também estava olhando estranho para mim mesma.
Nunca fumei e por algum motivo comprei uma carteira de cigarros caros em um sábado de sol.
Continuei andando até chegar a uma rua completamente vazia, com arvores e uma sombra.
Caí na grama que beirava a estrada e usei uma pedra como almofada. Acendi um dos cigarros.
Fiz isso com a naturalidade de quem fuma a anos. Não que eu me orgulhe ou ache isso bonito. Foi só, natural.
Quando senti o calor da brasa bem próximo da minha boca, joguei o que sobrou para o lado e me abstive de acender outro.
Mais natural do que acender o maldito cigarro foi a leveza com que uma lagrima percorreu meu rosto.
Eu não queria chorar. Estava seca por dentro, sabia disso.
Entrei em prantos. Minha garganta e meu estomago doíam com a força que fazia.
Nada muito extraordinário aconteceu nesses últimos dias, mas, me sinto frustrada. Incapaz.
Parece que não consigo levar a diante meus planos, meus desejos e meus amores. Tudo amorna. Tudo vira monotonia.
Posso estar reclamando de barriga cheia e isso é bem provável, mas, eu não sei lidar com meus demônios. Preciso estar em constante movimento. Sou movida a experiências.
Me viro do avesso e arranco as raízes das plantas que estavam crescendo no meu jardim. Não eram só flores.
Acho que estou saindo dos trilhos e é incrivelmente difícil encontrar o norte dessa viagem.
Pressionei meus olhos com força. Respirei fundo. Levantei.
Voltei a andar, seguindo o sol.
Acordei.