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sexta-feira, 5 de setembro de 2014

Vai ouvir o blues do vizinho solitário, do apartamento 304, do terceiro prédio, há duas esquinas de onde você está;
Vai acreditar que a cada segundos, quando um metal ou uma madeira qualquer desse edifício se comprimir de frio, são tuas chaves entrando pela fechadura;
Vai testar mentalmente todas as hipóteses que nem os mais brilhantes gênios poderiam imaginar;
Vai sentir a dor, como se seus músculos, tensos, a qualquer momento pudessem desmembrar-se, embalados pelas expressões externas de alguém em desespero;
Vai sofrer a agonia de uma mente perturbada, que grita e chora e esperneia;
Vai. Só não vai entender que o que eu digo sobre o que você faz, tem proporções diferentes, quanto a sua e a minha interpretação;
Vai, quem sabe, arrisca-se em viver tua liberdade. Solitária;
Vai, mas vai sabendo que ninguém no mundo aguentaria isso, da forma como aguento;
Porque são proporções. Inversas. Proporções de alguém que carrega consigo, constantemente, a perturbação.

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